Esmagar seus inimigos, vê-los caídos diante de seus olhos e ouvir os lamentos de suas mulheres!
A frase icônica narrada por Arnold Schwarzenegger no filme Conan, o Bárbaro (1982), dirigido por Jonh Milius e co-escrito por Oliver Stone, resume brevemente o gênero de Espada e Feitiçaria. Na literatura fantástica atual, a Espada e Feitiçaria (Sword & Sorcery no original) é considerado um subgênero onde as histórias envolvem três elementos básicos:
A) heróis e vilões engajados em violentas batalhas que são decididas no fio da espada;
B) seres sobrenaturais, evidenciando, normalmente, a bruxaria e a feitiçaria;
C) romances tórridos e com nuances eróticas.
Conan, o Bárbaro |
Em 1961 o autor britânico Michael Moorcock publicou uma carta na revista Amra sugerindo que as histórias escritas por Robert E. Howard deveriam ser definidas como “fantasias épicas”. No entanto, o norte-americano Fritz Leiber rebateu seus argumentos e publicou na revista Ancalagon um artigo onde ele postava que o melhor termo seria Espada e Feitiçaria.
Mas porque estes dois autores estavam tão interessados nos trabalhos de Robert E. Howard?
Para tanto, precisamos recuar no tempo. A origem deste gênero se perde através dos séculos. É possível encontrar os três elementos básicos (ás vezes reunidos, mas, normalmente, separados) em contos mitológicos de diversas civilizações e sagas, principalmente da região nórdica. Muito tempo depois, autores como Alexandre Dumas (Os Três Mosqueteiros) e Rafael Sabatini (Scaramouche) introduziriam elementos vívidos em seus combates, levando a aventura e ação para um novo patamar. E não podemos nos esquecer da influência dos contos árabes (notadamente As 1001 Noites), que trouxeram a tona os feiticeiros, os gênios e as terras distantes.
Robert E. Howard |
Nos três contos escritos sobre o personagem, Kull é narrado vivendo como escravo em uma galé, pirata, fora da lei e até mesmo um gladiador em uma arena pré-romana. Mais tarde, ele se tornaria soldado e chegaria a rei.
Conan |
Conan nasceu de um conto rejeitado de Kull. Howard o modificou, tornando-o mais direto e estabelecendo um contexto histórico diferente. Em 1932, no conto “The Phoenix on the Sword”, Conan era apresentado ao mundo. Hoje, ele é reconhecido como um dos grandes personagens icônicos ao lado de Tarzan, Conde Drácula, Sherlock Holmes, Batman e James Bond.
Haveria mais dezenove histórias com Conan e um romance. A popularidade do personagem se manteria mesmo após o suicídio de Howard, através de outros autores que continuaram a escrever sobre o cimério. Então, em 1970, a Marvel Comics lança a revista “Conan, o Bárbaro” que se manteria até 1993. Em 1975 foi lançada “A Espada Selvagem de Conan”, uma revista voltada ao público adulto, em preto e branco. A partir de 2003, revistas com o personagem foram publicadas pela Dark Horse Comics.
Red Sonja |
E o Brasil não poderia ficar de fora. Para falarmos sobre o assunto, convidei dois editores que tem trabalhado com o tema para discutir como anda a Espada & Feitiçaria por aqui. O primeiro é Cesar Alcázar, escritor, tradutor, fundador e sócio da gaúcha Argonautas Editora. Um dos últimos trabalhos da firma é a coletânea “Crônicas de Espada e Magia” que traz como autores o tal do Robert E. Howard, um outro sujeito conhecido como George R.R. Martin e mais os debatedores Fritz Leiber e Michael Moorcock, além de Saladin Ahmed. Nesta estelar companhia temos os brasileiros Carlos Orsi, Roberto de Sousa Causo, Max Mallman, Ana Cristina Rodrigues e Thiago Tizzo. A antologia foi publicada em parceria com a Editora Arte e Letra.
Ed. Argonautas |
Editora Buriti |
1) O gênero Espada e Feitiçaria têm recebido um grande impulso no país, com diversas editoras que exploram a fantasia apostando na produção de coletâneas e antologias. A saga Game of Thrones, de George R.R. Martin, e exibida pela HBO e que tem, no Brasil, a sua segunda maior audiência mundial, tem despertado os leitores brasileiros para este tema?
Cesar Alcázar: sem dúvida a série inspirada nos livros de George Martin tem despertado o interesse do leitor brasileiro na Literatura de Fantasia, mas de um modo geral, não especificamente na Espada e Feitiçaria. Porém, é claro que esse subgênero acaba recebendo uma boa atenção, pois, quem procurar algo mais adulto e sombrio com base nas Crônicas de Fogo e Gelo, não vai encontrar esse clima nos livros de Tolkien e cia. Já na obra de autores como Robert E. Howard, Michael Moorcock e Karl Edward Wagner, quem procurar por esses elementos mais fortes vai encontrá-los em abundância.
João T.: Com certeza todas estas produções contribuem bastante, mas acredito que o mais têm atraído o público brasileiro é a vastidão do mercado fantástico a ser explorado.
2) O gênero sempre explorou tanto a sensualidade quanto a violência, em maior ou menor grau. A produção nacional segue o mesmo caminho ou há uma diferenciação dos autores brasileiros na abordagem do tema?
Cesar Alcázar: A julgar pelos textos que já editei, sim, a produção nacional segue esse caminho. Erotismo e violência são elementos importantes do gênero, estão lá desde o princípio com Howard e C. L. Moore. Como disse antes, a Espada e Feitiçaria tem uma pegada mais adulta, e os autores não tem medo de ousar.
João T.: É evidente que a produção de cada país se diferencia de outro em diversos aspectos, e no Brasil não é diferente. Porém, não podemos generalizar afirmando que as obras brasileiras seguem este ou aquele caminho, quando cada autor busca a seu modo se destacar no gênero.
3) Um dos grandes impulsionadores do gênero no mundo foi Robert Howard, que popularizou suas escritas também nos quadrinhos. No cenário brasileiro, a transposição dos livros para outras mídias, como as HQ, ainda é um sonho distante ou uma realidade que se aproxima?
Cesar Alcázar: Desconheço se algum trabalho brasileiro atual de Espada e Feitiçaria chegou aos quadrinhos. Uma adaptação da série “A Bandeira do Elefante e da Arara” está em andamento, mas sem previsão de chegar às livrarias. Algumas publicações independentes, como a extinta Quadrix, publicaram HQs originais nesse estilo. Talvez a nova editora 9Bravos venha a publicar também, mas nada certo.
João T.: Felizmente, vemos esse sonho transmídia cada vez mais perto de se tornar uma realidade no Brasil. Algumas histórias já são lançadas simultaneamente em quadrinho, prosa e algumas vezes até mesmo em vídeo. Pretendemos em 2014 ter ao menos um projeto na casa que percorra todas estas mídias.
Interessado? Procure a livraria mais próxima e se aventure nas lâminas recobertas por sangue!
O segredo do aço sempre
carregou consigo um mistério.
Deve aprendê-lo, jovem Conan.
Deve aprender a sua disciplina.
Pois ninguém...
ninguém neste mundo é confiável.
Nem os homens, nem as mulheres,
nem as feras.
Na espada você pode confiar!
(adaptado de Conan, o Bárbaro)
A empresa Mattel desistiu de fabricar os brinquedos que acompanhariam o lançamento do filme Conan (1981). No seu lugar, ela lançaria um novo personagem: surgia o He-Man!
No filme de 1981, Valeria, a namorada de Conan, são vistos em grande parte do filme, mas só trocam cinco palavras entre si.
Barack Obama é um grande fã de Conan. Ele recebeu uma homenagem na série Barack, The Barbarian, escrita no estilo das histórias do cimério.
A.Z.Cordenonsi
Pai, marido, escritor, professor universitário
Tem dois olhos divergentes e muito pouco tempo
página do autor - duncan garibaldi - facebook - twitter
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